“Olha o baleiro!” Uma vida nada doce

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Resumo do post Odia deles não é fácil. Acordam cedo, saem para trabalhar antes de o sol raiar. Sobem e descem dos ônibus cada um com sua propaganda, que vai desde o clássico discurso da necessidade de levar alimento para a família, até canções hilariantes. Essa é a vida dos baleiros baianos. Descontração dos passageiros, ontem no Plenário Cosme de Farias, os vendedores tiveram o seu trabalho reconhecido, com uma sessão especial, para comemorar o quarto aniversário da União dos Baleiros de Salvador (Unibal). Segundo o órgão, hoje, mais de 1,2 mil associados cadastrados trabalham diariamente pelas ruas de Salvador.

Resto do post “Olha o baleiro chegando! Bom dia motô!. Bom dia pessoal! Desculpa interromper o silêncio da viagem, pessoal! Olha pessoal, eu tenho as refrescantes pastilhas de hortelã, a goma de eucalipto medicinal. Na concorrência tá por R$ 0,50 na minha mão tá por R$ 0,30, pessoal”. Com essas frases recheadas de figuras de linguagens, famosas aos ouvidos dos soteropolitanos que usam o transporte público – o famoso buzú -, alguns baleiros chegam a faturar R$ 600 por mês, com a venda dos doces.

Quem pensa que o trabalho informal é praticado só por adultos, está equivocado. Jovens e idosos utilizam do mecanismo para garantir uma renda. Carlos, 13 anos, após sair da escola passa em casa troca de roupa e vai para o ponto de ônibus com uma caixa de drop’s. “Lá em casa minha mãe e meus irmãos trabalham. Sempre que eu precisava de um calçado ou roupa tinha que pedir dinheiro para eles, só que eles ganham pouco. Então resolvi começar a vender no ônibus, e assim juntar dinheiro para comprar minhas coisas. Todo dia eu acordo cedo, me arrumo e vou para escola. Quando a aula acaba, vou direto para casa, troco de roupa e venho para o ponto de ônibus vender. Não largo a escola por nada, pois quero cursar faculdade e ser um grande empresário”.

Apesar dos 60 anos, José Carlos Barbosa continua trabalhando como vendedor. “Eu sou do tempo em que baleiro tinha farda, cesta de vime pendurado no braço e, vendiam dentro dos cinemas. Naquele tempo nós éramos bem respeitados, e ajudávamos nossas famílias com o dinheiro das vendas das guloseimas. Hoje, não somos tão respeitados como antes, mas ainda temos benefícios: faturamos um bom dinheiro, fazemos nosso próprio horário, não recebemos ordem de nenhum patrão, criamos nossas próprias estratégias de marketing, e não temos problemas com assaltos. Por causa disto, baleiro que é baleiro não abandona a profissão”.

Com um tabuleiro improvisado com caixas de papelão e um balde transparente – para que os seus produtos sejam visualizados como numa vitrine -, Márcio da Silva vive desse emprego informal há cinco anos. Ele relatou que para vender as suas mercadorias usa de algumas “artimanhas”. “Primeiro saúdo o motorista, depois falo com os passageiros e faço a propaganda dos meus produtos. Na hora de vender nós usamos várias técnicas damos indicações farmacêuticas, características do produto e fabricante. No entanto, para termos sucesso com as vendas usamos a palavra-chave ‘promoção’”.

Os baleiros tornam a viagem de muita gente estressada, agradável. Juliana Souza trabalha como recepcionista em uma clinica odontológica e, utiliza o “buzú” diariamente para ir ao trabalho, no Stiep. “Gosto muito do jeito como os vendedores se expressam. Acho que eles são bem criativos. Quer dizer, nem todos. Alguns só falam: ‘Baleiro, baleiro, baleiro,...’. Outros falam da situação social: ‘Eu sou um pai de família, tô desempregado,...’. Mas tem um vendedor que eu me divirto muito. Ele sempre pega o ônibus aqui na região da avenida ACM e oferece o produto dele cantando, é ‘irado’”.

Bárbara Pereira, estudante de Comunicação Social, utiliza o transporte público diariamente para ir à faculdade, na Federação. Assim como ela, a estudante de Administração, da Faculdade Vasco da Gama, Ana Paula, utiliza todo dia esse meio de transporte. Ela observa que alguns baleiros incomodam, pois ela vai muito cedo para a faculdade. “O que eu mais encontro no ônibus são baleiros. Eu tampo os ouvidos e vou dormindo. Eles me estressam. Alguns falam errado, acho que é para nos comover e podermos comprar. Porém, têm outros que falam de forma sofisticada, o que para mim demonstra zelo. Acabo comprando algumas balas. Fico com dor na consciência e compro para ajudar”.

Desde o ano de 2005, Coletes e crachás com fotos fazem parte da rotina dos baleiros de Salvador. A iniciativa é uma parceria da Superintendência de Transporte Público (STP) e Unibal, e assim os associados podem ter livre acesso ao interior dos ônibus para a venda dos seus produtos, com segurança também para os usuários. A medida aprovada assegura maior desempenho nas atividades, principalmente dos baleiros cadastrados e associados.

O Unibal, que se localiza próximo ao bairro de Pernambués, faz cerca de 80 cadastros mensalmente. De acordo com os ambulantes, entrevistados pela equipe de Reportagem da Tribuna, eles pagam uma taxa anual de R$ 15 para adquirir o colete e o crachá, tendo o prazo de 15 a 30 dias para pegar o uniforme, que muda de cor todo ano. Os trabalhadores ainda pagam mensalmente uma taxa de R$ 5. No entanto, quem não paga a quantia não troca de colete, por isso podem ser vistos em alguns pontos da cidade baleiros com uniformes do ano passado.

Baleiro desde criança, José Souza, 26 anos, destacou a importância da iniciativa. "Podemos trabalhar com mais tranqüilidade, as pessoas sabem que estamos lutando pelo nosso ganha-pão e nos respeitam. Hoje me sinto um trabalhador como outro qualquer, faço parte do mercado informal".

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