Walter Pinheiro fala sobre os 40 anos da Tribuna Da Bahia

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Em 21 de outubro de 2009 o jornal Tribuna da Bahia comemora 40 anos e para saber mais informações sobre este jornal baiano, eu entrevistei o atual diretor presidente da Tribuna da Bahia um dos três jornais do estado da Bahia, Antonio Walter Pinheiro. A Tribuna da Bahia foi importante para a história da imprensa baiana, pois o seu idealizador e fundador Elmano Castro junto com amigos e profissionais da área de comunicação revolucionou a imprensa baiana em 1969 ao criar o formato do TB com grandes inovações como fotos grandes na capa, impressão em off set, lead da pirâmide invertida, escrita direta, o primeiro manual de redação e outros. Audacioso para sua época e de extrema competência, formou uma geração de jornalistas na Bahia, a geração TB. Nesta época a capital passava por reestruturação viária, quando começaram a ser construídas as grandes avenidas de vale como Paralela, Bonocô, Vale dos Barris, Garibaldi, entre outras. O primeiro número da TB custou apenas NCR$0,25 (vinte e cinco centavos de cruzeiros novos) e a primeira manchete da TB mostrava a dura realidade política da época: “Milhares de Políticos São Agora Inelegíveis”, em alusão à nova Carta Constitucional, outorgada pelos ministros militares que declarava não ilegíveis os políticos que já tinham exercido cargos de presidente e vice-presidente da República, governador e vice de Estado e prefeito e vice dos municípios.


GAS - Como surgiu a Tribuna da Bahia?
AWP - Ela nasceu em 21 de outubro de 1969, período extremamente para as comunicações visto que pouco tempo antes em dezembro de 68 havia se instituído o AI-5, o famoso AI-5, que foi o instrumento mais duro que a ditadura utilizou para censurar, limitar o direito de expressão a liberdade de imprensa de comunicação. Então o jornal chocou com este clima [repressão], mas prometendo uma serie de inovações, seja em termo de conteúdo, ou de apresentação gráfica. A tribuna foi um sonho do empresário Elmano Castro, seu fundador, que se juntou há outros empresários para oferecer a Bahia algo de mais compreensível, contundente em termos de rádio, de jornal, de televisão e também de gráfica. E assim foi em 15 de março de 1969 que surgiu a Tv Aratu que agora completou os seus 40 anos, surgiu também a Simgraf que era uma gráfica ao estilo da Santa Helena, essa gráfica era tão sofisticada que para época ele não teve como se manter os preços não eram competitivos com o do mercado e acabou fechando e a Tribuna da Bahia que surgiu em 21 de outubro de 1969 para revolucionar como desejava a própria imprensa que vinha de uma forma muito conservadora enfim sem os avanços já registrados na época pela imprensa de alguns estados e muitos países então ele contratou o jornalista Quintino de Carvalho, baiano, mas que se encontrava no Rio de Janeiro e o Quintino veio para Salvador e ele levou basicamente um ano montando a estrutura da redação e o formato do jornal que iria ser lançado por aqueles empresários.

GAS - Na sua opnião qual a maior contribuição de Quintino de Carvalho para a Tribuna da Bahia?
AWP - Naquele momento no Brasil não existiam as escolas de comunicação então o jornalista era um dom, um dom de escrever, assim como Jorge Amado, Ruy Barbosa e outros intelectuais conhecidos. Eles tinham o dom da escrita. Então, os escritores geralmente começavam através de jornais, jornais pequenos, jornais maiores. E o Quintino, então, foi buscar universitários nas faculdades. A faculdade de direito, a faculdade de letras e pedagogia forneceu um bom número de universitários, que ele trouxe para treinar. Para fazer uma equipe, fazer um laboratório na verdade, para montar um jornal que ele pensava um jornal moderno, que iria aproveitar dos equipamentos modernos que os empresários liderados por Elmano Castro estavam colocando aqui em salvador.
A TB foi o primeiro jornal a fazer impressão a cores, foi o primeiro jornal a imprimir em rotativa, imprimir em off set, foram todas as atualizações que o Tribuna trouxe em 1969 para o estado da Bahia. E em termos de conteúdo ele formou toda essa equipe [universitários] e com isso Quintino formou a famosa escolinha TB, onde ele alertava ou ensinavam todos aqueles que estavam ali sendo treinados o que fazer ou o que não fazer para praticar o jornalismo ou para compor ou editar o jornal que ele desejava. O que era solicitado pelos empresários que estavam querendo trazer este jornal para o mercado.

GAS – O que você me diria sobre o profissional Quintino de Carvalho?
AWP – O trabalho de Quintino foi magnífico em todo esse processo ele se dedicava de corpo e alma ele chegava a dormir no próprio jornal. À medida que o jornal veio à rua, para fazer tudo àquilo que havia sido planejado já acontecia, mas, muitas coisas só com o próprio tempo poderiam ir corrigindo e então ele tinha uma aceitação assim imensa. Não creio que tenha sido por isso, mas de qualquer forma Quintino com dois anos de atividade começou a sofrer um tumor cerebral e veio depois a falecer. Então ele teve na prática, um tempo pequeno de atuação, mas uma importância maiúscula na formação da equipe, no treinamento da equipe. Equipe formada por valores que hoje estão aí, inclusive ocupando postos expressivos na sociedade como, Marcelo Cordeiro que já foi inclusive Sub Secretário Geral da República, o Roberto Pessoa que já foi Secretário do Regional Tribunal do Trabalho, Sergio Gomes, o próprio Ivan Carvalho.

GAS – Ivan Carvalho ainda trabalha no jornal?
AWP – Ele é o nosso comentarista político, ele é considerado como o mais equilibrado comentarista político do estado, em termo de cultura, em termo de ponderação. Ele continua a contribuir conosco, ele basicamente só faz comentários, comenta os fatos inclusive nacionais, locais, no ramo da política. Então o Ivan também participou da equipe de Quintino, o Paulo Sampaio que é o diretor de redação hoje ele chegou um pouco depois, mas também conheceu o Quintino.

GAS – Quanto editores o jornal já teve?
AWP - Bem, em realidade neste tempo nos tivemos nove editores chefes, o diretor de redação, no período de 40 anos, eu conto aqui uns nove que ocuparam a posição, o cargo.

GAS – Como se deu o lançamento do jornal?
AWP – Foi uma fase muito difícil, a fase de lançamento do jornal 69, 70, 71 com a então situação [AI-5], o período foi realmente difícil, mas que empolgou todos aqueles que participaram do projeto por que efetivamente a chegada da Tribuna mexeu com a imprensa baiana, pelas inovações gráficas, pelo conteúdo, pela forma de apresentação do conteúdo, pelas abordagens, pela coragem também de enfrentar o sistema de estado. Isso inclusive levou o jornal a ter um quadrado em uma famigerada lista negra dos jornais brasileiros, os jornais que não poderiam receber verbas públicas. Mas o jornal não se pegava a isso.
Movimentos estudantis, movimentos dos sindicatos, a luta pela liberdade de imprensa, pelo restabelecimento democrático, foi noticiado, foi publicado enfim o jornal levou isso às paginas como pode ser conferido no nosso arquivo. Isso deu também a Tribuna da Bahia uma imagem que é de um jornal de credibilidade, um jornal de independência, um jornal de vanguarda de combate, essas são características que marcam o jornal Tribuna da Bahia e dos seu 40 anos.

GAS – O que será feito para comemorar os 40 anos da Tribuna?
AWP - Os 40 anos é um momento também que nós aproveitaremos para fazermos as devidas homenagens àqueles que também pensaram e formataram. Aqueles que lançaram a Tribuna da Bahia no mercado. E dentre eles o Elmano Castro e o Quintino de Carvalho um representando o lado empresarial e o outro representando o lado editorial e eu tenho certeza que ira sensibilizar e orgulhar e satisfazer a muitos daqueles que hoje aí estão em outras atividades e ainda outros que aqui estão trabalhando, seus familiares, e todos os exemplos que foi passado para eles.
Em 21 de outubro o jornal estará promovendo um grande evento para comemorar a data como também antes disso. Nós já temos mesmo, por exemplo, desde o dia primeiro de janeiro que nós estamos saindo diariamente com uma sessão sobre os 40 anos da atualidade. Na verdade em 24 de março ela não existia, mas nós estamos pesquisando e colocando noticias importantes que estavam acontecendo em 24 de março de 1969. E depois pegaremos 21 de outubro e iremos até o 31 de dezembro de 69 com os noticiários. Aqui já é uma forma de estar marcando de estar informando o povo dos 40 anos.

GAS – O senhor disse que o jornal não existia em 24 de março, mas segundo informações do livro Memória da Imprensa Contemporânea da Bahia, os alunos recebiam pautas de Quintino e as cobriam, depois produziam as matérias e levavam para o Quintino.
AWP - Isso. Foi aquele período que eu falei que o Quintino levou justamente um ano treinando a equipe, como uma espécie de laboratório onde ele foi buscar os estudantes na faculdade de direito, o estudante de pedagogia de letras, enfim trazendo eles para cá para ensinar a eles a comunicação, a como fazer jornal. Ele não chegou preocupado em tirar nenhum jornalista de outro concorrente, ele foi buscar alunos com alguma formação universitária ou se preparando para ter. E aí ele determinava as pautas, mandava fazer, traziam as matérias ele analisava as matérias e ia orientando, mas muito daquilo foi encaminhando depois para o lixo ele não aproveitava. Por que só a partir de outubro de 69 que esses materiais passaram a ter aproveitamento nas edições dos jornais.

 

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