Material de apoio para as escolas

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Modificação de governo causa mudança na distribuição dos materiais para as escolas.

Gisele Assis

“O material de apoio escolar é comprado pelas próprias escolas”, afirmou Margarida Rios, diretora de suprimentos da Secretaria Estadual de Educação. Ela atende as necessidades mobiliárias e faz as licitações para que as instituições de ensino possam adquirir o dinheiro do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE). Ela afirmou que o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) disponibiliza através do PDDE a assistência financeira necessária para os colégios da rede pública. No entanto, com a mudança de gestão, diretores e funcionários falam que ocorreram conseqüências na distribuição dos materiais para as escolas.
O PDDE é um Programa do governo Federal que disponibiliza o dinheiro na conta das escolas municipais, por alunos matriculados nesta. O repasse da verba é feito anualmente para as instituições, com a finalidade dos diretores utilizarem com custeio, manutenção da escola, material de limpeza e material pedagógico, sendo este tombado pelo governo - cadeira, computador, armários e outros - necessários à instituição. Ficando sob responsabilidade do governo apenas o dever da distribuição dos materiais didáticos e o envio do dinheiro.
Atualmente as escolas estão participando do Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE), que é um programa do governo Federal. Segundo afirmação de Luciana Pereira, vice diretora da Escola Municipal Agnelo de Brito, localizada na Rua Manoel Almeida Pacheco. Na escola, o programa funciona da seguinte forma: o governo Estadual envia 50% do dinheiro para a prefeitura, que deve complementar com a outra metade e repassar o benefício para as escolas, para os diretores poder investir na escola fazendo manutenção e comprando os materiais necessários para que esta continue funcionando. Caso o Prefeito não complemente, o beneficio deve voltar para o governo Estadual.
Em uma manhã de quinta-feira, no dia 24 de maio, na diretoria da escola Metodista Suzana Wesley, localizada na Rua Simões filho, na Boca do Rio, Virginia Mota Sebraz, vice-diretora e professora da escola, falou que “com a mudança de governo ocorreu alguns benefícios, chegaram mais materiais escolares, didáticos, jogos educativos, mas não teve uma alteração muito grande do outro governo”. Ela ainda declarou que os materiais de limpeza tiveram melhor distribuição na gestão passada, pois nesta, devido ao problema financeiro enfrentado pela prefeitura, o órgão teve maior atenção com a distribuição dos livros didáticos, os livros para a biblioteca e a instalação de computadores.
Virginia diz que utiliza a verba federal disponibilizada para as escolas municipais, através do PDDE, para comprar os materiais de limpeza que não são mandados pelo governo. Ela falou que quando o dinheiro demora de chegar os professores, juntamente com a diretora, Maria José, compram do próprio salário o material de limpeza que acabou.
Sentado em uma cadeira junto ao portão da escola, esperando o horário de acabar a aula para poder organizar as crianças de modo a não se machucarem, enquanto esperam os portadores, Raimundo Fernandes, coordenador do setor de limpeza, falou que quando falta o material de limpeza, comunica a diretora, que logo soluciona o problema. Ele fala que procura ter controle sobre o material de limpeza: “Como já trabalhei na limpeza, tenho uma base de quanto deve ser gasto. Se o colega pega uma garrafa de Q’boa pela manhã e a tarde pede outra, faço uma pesquisa para saber se realmente foi gasto uma garrafa de Q’boa em uma manhã e peço para que economizem”. Para Raimundo, o importante é não deixar a escola suja. “Os alunos tem que estudar em um bom ambiente”, salienta.
Na diretoria da escola Municipal Metodista, Ramaiana Jatobá, menina de 10 anos, aluna da quarta série, com o cabelo preso, mochila rosa de rodinhas, devidamente fardada, disse que o governo forneceu para os alunos, no início do ano letivo, livros didáticos, diários escolares, cadernos e lápis. Como seus pais já os tinha comprado, ela preferiu deixar para os colegas que não possuíam.
Ramaiana relatou que no intervalo gosta de ir para a biblioteca ler. A bibliotecária a orienta como utilizar os livros, porém para fazer seus trabalhos da escola, a depender do dia, utiliza o computador de sua casa. Ramaiana, no fim de semana, faz o trabalho em seu próprio computador e durante a semana faz suas pesquisas em Lan House. A necessidade de Ramaiana fazer a sua pesquisa fora da instituição ocorre pela falta de exemplares e diversidade de livros na biblioteca da escola.
Sentada em uma cadeira, localizada no canto esquerdo da biblioteca, de frente para porta de acesso ao setor, a bibliotecária Conceição Nascimento lia um livro didático, com a representação da obra de Edvard Munch, quando entrei para entrevista-la. Conceição disse que o acervo de livros existentes na biblioteca do colégio é pequeno, e que além de faltar mais tipos de livros para pesquisa, como enciclopédias e bons dicionários. Ela ainda fala que não há condições de emprestar os livros aos estudantes. “O número de exemplares é pouco, normalmente dois de cada, por isso não dá para ocorrer empréstimos, além disso, em casa eles não teriam os devidos cuidados com os livros, diferente da utilização na biblioteca, visto que, aqui eu posso orientá-los como podem conservar e manusear o livro”.
Conceição diz que apesar de não acontecer empréstimos de livros, os alunos têm o contato com estes. “Os alunos têm livre acesso aos livros. Na hora em que eles quiserem vir ler eles podem. Os professores muitas vezes os trazem até aqui, para escutarem ou lerem estórias, isto quando não levam os livros para trabalhar com eles, na sala de aula”. Ela ainda declara que os exemplares dos livros são tão poucos que às vezes quando mais de um professor quer trabalhar com o mesmo livro, o docente faz cópias do livro e paga com o próprio dinheiro.
Na escola Ruy de Lima Maltez, municipalizada há dois anos, localizada na Ladeira dos Galés, em Brotas, a realidade é bem diferente da Metodista. A professora Maria das Graças Meireles disse que “Com a mudança do Governo Municipal a mudança foi drástica, tanto para o material de uso dos alunos, quanto o material de higiene e até a merenda escolar”. Ela disse que falta tudo. “Quando a escola pertencia ao Estado tínhamos uma grande quantidade de material que era utilizado pelos alunos”.
Maria disse que quando falta ou atrasa a chegada do material didático, o professor sempre dá um jeito. “Trazem de casa, reciclam o que é possível e em último caso até pedem a quem pode trazer alguma coisa para compartilhar com os colegas”. A diretora da escola Municipal Ruy de Lima, preocupada com os alunos mais carentes, faz uma reserva de cadernos, lápis e borracha para distribuir a estes estudantes, para que eles não fiquem sem estudar só por causa da falta de material.
Anunciado recentemente, em rede nacional, pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva, o Programa de Desenvolvimento da Educação (PDE), chamado pela imprensa de PAC da educação, têm como função abranger o sistema de educação desde a infância a pós-graduação. O programa prioriza o investimento na educação básica, onde será investido no nível superior e este como é ligado aos outros níveis beneficiará a todos. No caso dos professores, vai melhorar o ensino dos futuros docentes, para que estes depois tenham mais informações e um método mais moderno de ensinar aos seus alunos.
No site da Universia Brasil, (www.universia.com.br), tem uma enumeração das principais ações anunciadas para cada nível da educação. A exemplo, na educação básica, dentre outros planos está a elaboração da Provinha Brasil, para medir o desempenho de crianças de seis a oito anos de idade. A criação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), variando de zero a 10. A implementação do programa Pró-Infância, que vai destinar recursos federais para a construção de creches e pré-escola. Realização de uma Olimpíada de Língua Portuguesa, como a Olimpíada de Matemática. Criação de piso salarial nacional do magistério; universalização dos laboratórios de informática, com criação do Proinfo rural. Algumas instituições de ensino já disponibilizam destes benefícios.

ENTREVISTA SOBRE MATERIAL DE APOIO PARA AS ESCOLAS

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A diretora da escola Municipal Agnelo de Brito, localizada na rua Manoel Almeida Pacheco, na Boca do Rio, Luciana Pereira Ramalho. Diretora, desde fevereiro do ano vigente. em entrevista a nossa equipe de reportagem, fala sobre o material escolar na Escola Agnelo.

GAS - Vocês contam com ajuda de custo de alguma empresa para o abastecimento de materiais escolar?
LP - Não, infelizmente somente os recursos do governo federal e municipal.

GAS - Com a mudança do governo ocorreu alguma modificação na distribuição dos materiais didáticos para a escola?
LP - Sim, os recursos que são de administração municipal sofreram uma brusca mudança, no que diz respeito à quantidade. Houve um decréscimo no envio de materiais do tipo: papel ofício, álcool (já que em muitas escolas usamos o mimeógrafo - absoleto, porém barato - em vez de computadores e impressoras), papéis diversos para trabalhos artísticos, etc.

GAS - O que é feito quando não tem materiais e nem recurso para comprá-los?
LP - Muitas vezes o professor e, a direção da escola compra, com recursos dos próprios, ou, o que acontece muito raramente, alguma doação da comunidade. Ultimamente, como não são mais enviados cadernos, lápis, borrachas e canetas, estamos pedindo aos alunos e suas famílias que providenciem.

GAS - O que é feito com o aluno que não tem possibilidade de comprar o material didático?
LP - Quando são poucos o professor, coordenação ou direção doa o material, mas quando são muitos, buscamos fazer campanhas com a comunidade na qual a escola está inserida.

GAS - A falta de material didático e de limpeza causa que conseqüências no aprendizado do aluno e no trabalho de vocês docentes e coordenadores?
LP - Sem dúvida que atrapalha e muito a falta de material didático, entretanto, como há o recurso criatividade, o professor e o coordenador sempre acabam "dando um jeito", o que permite aos nossos governantes certa tranqüilidade, pois sabem que nos preocupamos com o nosso alunado e procuramos sempre não prejudicá-lo com a falta de material didático; mas quanto ao material de limpeza, está se tornando rotina os diretores comprarem do próprio bolso ou se fazer campanhas com os alunos para angariar materiais de limpeza.

GAS - Como é distribuído o material didático (livros, revistas, cartilhas) para vocês?
LP - Na maioria das vezes, o MEC envia diretamente para as escolas. Livros de literatura, ou também conhecidos como para didáticos, revistas ligadas à educação (tipo Nova Escola, Educação, etc). O MEC e a prefeitura sempre estão munindo as bibliotecas escolares.

GAS - Como era feita a distribuição do material didático antes?
LP - Desde que ingressei na prefeitura, em 2001, a distribuição de livros já era feita dessa forma, portanto não posso avaliar outro método de distribuição.

GAS - O que é necessário fazer para a escola receber os materiais didáticos?
LP - De 3 em 3 anos recebemos catálogos de editoras que participam do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), para que possamos escolher os livros a serem adotados para o triênio seguinte, com base em informações do censo escolar e nas opções das escolas (que normalmente escolhem três livros para cada disciplina), o MEC envia, a cada três anos, livros didáticos.

GAS - O que é feito quando não tem os materiais e, não se tem previsão de quando vão chegar?
LP - Enquanto não chegam, temos que recorrer às apostilas mimeografadas, muitas vezes, já que nenhuma escola possui mecanografia e poucas possuem computadores. Fazemos a atividades avulsas para que os alunos não fiquem com o trabalho pedagógico emperrado por estarem sem livros.

GAS - Como é conservado o material didático?
LP - Há um trabalho efetivo de comprometimento dos familiares, bem como uma constante cobrança de colaboração para a conservação destes materiais. Infelizmente venho observando que a 'cultura' de que o "governo é que deu" e pode estragar que tem obrigação de dar mais ainda é muito forte. Se não houver um comprometimento da família, dificilmente essa postura mudará.

GAS - A escola possui biblioteca?
LP - Em algumas escolas há livros suficientes para montar uma biblioteca, porém não há espaço, como aqui na Agnelo Brito, porém os livros são usados em sala e com cirandas de livros entre os alunos. Já na Metodista Susana Wesley há o espaço da biblioteca, os alunos têm acesso aos livros quando necessitam ou querem, há uma bibliotecária que orienta os alunos, os professores têm um horário semanal de uso da biblioteca, para atividades variadas: a hora de contar histórias, leituras de gibis, pesquisas escolares, uso de Atlas, etc.

 

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